Versalhes não é apenas o mais lindo palácio já construído mas é principalmente um tributo a "todas as glórias da França". Mandado construir como um pavilhão de caça por Luís XIII, foi seu filho e sucessor, Luís XIV que o transformou em um verdadeiro símbolo da riqueza e sofisticação de uma Nação representada por seu rei absoluto e, segundo suas próprias palavras, representante único do Estado.
Luís XIV havia reformado o antigo castelo de Vincennes, a leste de Paris, mandando construir dois pavilhões novos destinados para ele próprio e para a rainha. Mas o esplendor da residência de seu ministro Nicolás Fouquet em Vaux-le-Vicomte despertou os mais cruéis instintos de inveja real fazendo com que o monarca determinasse a prisão perpétua de seu proprietário e a construção de uma residência digna de um Rei Sol, que não fosse ofuscada por nada ou por ninguém.
Deste modo, não houve economia na construção do novo domínio que, com seus três palácios, jardins e dependências, tornou-se um complexo imenso, capaz de manter a realeza e sua corte longe das confusões de Paris e imersa em um mundo de opulência e sofisticação que resultaria, pouco mais de um século após sua inauguração, na perda da cabeça de Luís XVI, tetraneto do Rei Sol.
De 1668 a 1710, data da inauguração da capela, último edifício construído no reinado de Luís XIV, Versalhes esteve em obras, empregando para tal os mais célebres profissionais dedicando toda sua arte e competência para o engrandecimento do rei. Le Nôtre para os jardins, Le Brun para o programa iconográfico e Le Vau para a arquitetura farão do pequeno pavilhão de caça um magnífico palácio célebre no mundo inteiro e símbolo do Antigo Regime.
Nos reinados de Luís XV, bisneto e sucessor do Rei Sol e posteriormente sob a monarquia de Luís XVI e sua esposa Maria Antonieta, o palácio também passou por modificações importantes, destruições e construções que lhe deram grande parte da aparência que o domínio apresenta hoje, incluindo o desmanche do Jardim Botânico, famoso em toda a Europa, por ordem da rainha, para a construção de uma vila particular, segundo seus desejos, representando o desapego aos elevados investimentos anteriormente realizados.
A Revolução colocará o palácio em risco. Com a transferência compulsória da família real para as Tulherias houve sérias ameaças de saques e depredação daquele símbolo da monarquia absoluta, mas o governo provisório acabou por transformar Versalhes em um grande espaço burocrático de visível abandono. Coube a Napoleão o trabalho de restauração, em especial do Trianon. Já na Revolução de 1830 novamente a ameaça da destruição ronda o palácio. Dessa vez ele será salvo por Luís Filipe, rei dos franceses de 1830 a 1846, que se fará retratar diante dos portões dourados.
Não apenas por seu aspecto externo e a riqueza de seus jardins que Versalhes impressionava. O interior do palácio também se tornara um modelo de luxo e requinte. Como principal divulgador do ideal de sofisticação promovido pela França que, privada de colônias que a abastecessem de metais preciosos, dedicou-se à produção de manufaturas de excelência a serem exportadas para os ricos países europeus e assim manter uma balança comercial favorável, seguindo as políticas de Colbert, controlador geral das finanças e um dos principais teóricos econômicos da França mercantilista. As peças de ouro e prata da mobília de Versalhes retratadas na obra de Claude Hallé demonstram a influência metalista do período e a opulência do monarca. No quadro ficou imortalizada uma audiência oferecida por Luís XIV ao Dodge de Veneza.
A Galeria dos Espelhos é uma das grandes salas do palácio cujas decorações são dedicadas às vitórias militares e aos sucessos políticos de Luís XIV. Servindo como passagem para os aposentos do Rei, costumava permanecer repleta de cortesões que buscavam ser contemplados com a atenção real em algum momento e assim poderem apresentar seus pedidos. No Antigo Regime não havia concurso público e os cargos eram distribuídos de acordo com a vontade do soberano e, normalmente, mediante o pagamento de algum valor. Nestes belos espaços ocorriam também as festas de maior repercussão de Paris, como comemorações religiosas e casamentos suntuosos. Aqui foram assinados os tratados de paz relativos à Guerra Franco-Prussiana, quando a França perdeu a região da Alsácia e Lorena e também após a Primeira Guerra Mundial, que determinou o retorno da região ao controle francês. Este ato foi considerado uma vingança pela Alemanha e motivou a invasão de Paris pelas tropas de Hitler alguns anos mais tarde.
O Salão Apolo foi o primeiro local destinado a colocação de um trono. No caso de Luís XIV este era confeccionado em prata pura, fundido em 1689. Neste local eram realizadas as audiências solenes. O nome do recinto é justificado pela pintura do teto de Charles Lafosse chamada o Carro do Sol, uma analogia ao próprio rei. Dominando uma das paredes havia um retrato do monarca em trajes reais, com cetro e espada, símbolos de seu poder.
O Salão de Vênus é outra dependência ricamente decorada e que servia para as noites de festas serem servidas frutas cristalizadas e doces em ricos recipientes de prata. Com diversas pinturas no teto, incluindo cenas da mitologia romana, o destaque é a estátua do rei em pé, representado por Jean Warin como imperador romano.
O grande apartamento da rainha era composto em conjunto simétrico com os aposentos do rei. Eram compostos pelo mesmo número de salas, o mesmo tipo de decoração e os mesmos motivos mitológicos, prevalecendo contudo os motivos femininos nos aposentos da rainha e masculinos no do rei. Era no seu quarto particular que a rainha dava à luz seus filhos, sendo esta uma cerimônia pública. Segundo as memórias de Mde. Campan, camareira de Maria Teresa, em um de seus partos "dois saboianos subiram sobre os móveis para assistirem à rainha mais a vontade...".
O quarto do rei abria por intermédio de três arcadas para a Galeria dos Espelhos a qual se constituía em caminho obrigatório para o monarca tanto para ir até a capela, seu costume matinal, como para as demais áreas do palácio. Foi da sacada deste quarto que Luís XVI, Maria Antonieta e o Delfim se mostraram à população revoltada em 6 de outubro de 1789, antes de serem forçados a se mudarem para as Tulherias.
Os jardins de Versalhes ainda hoje despertam a admiração de seus visitantes. O ingresso ao complexo possibilita a opção de se passear pelos bosques, ajardinados e fontes, particularmente lindas durante o chamado Espetáculo das Águas, quando todas as fontes são colocadas em funcionamento.
As últimas adições ao complexo foram destinadas a atender aos desejos particulares de Maria Antonieta que determinou a destruição do Jardim Botânico para substituí-lo por sua própria aldeia inspirada nas construções rurais normandas.
Maria Antonieta, esposa de Luís XVI, entrou para a História como uma pessoa frívola e perdulária mas historiadores modernos têm oferecido uma versão alternativa para o papel desta nobre austríaca. Penúltima dos dezesseis filhos do rei da Áustria, Maria Antonieta não pode contar com a atenção dos pais, envolvidos constantemente com os assuntos de Estado. Aos quatorze anos casou com o delfim da França se tornando futura rainha consorte. Por sua origem estrangeira, foi odiada desde sempre por seus súditos que ao invés de "autrichianne" (austríaca) a chamavam de "autre chienne" (outra cadela). Teve quatro filhos sendo que os dois delfins morreram antes dos dez anos e uma filha morreu antes do primeiro ano. Aos trinta e três anos assistiu da sacada do quarto de seu marido o povo invadir o palácio e decretar sua prisão no palácio das Tulherias. Após ter seu marido guilhotinado, seu filho arrancado dos braços para morrer no cárcere, foi igualmente guilhotinada aos trinta e sete anos, encerrando uma vida de luxo e riqueza mas também de rejeição e dessabores imensos.
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