De volta à Idade Média: Carcassonne!

          De todas as cidades fortificadas da França, a mais incrível é sem dúvida a de Carcassonne.  A história da cidadela é tão antiga quanto as lendas que a cercam e remontam ao período anterior ao ano 1000 de nossa era, quando os vikings vindos das frias terras do norte (normandos) ameaçavam as prósperas e "quentes" cidades do território que hoje compõe a França. 

               

              A dupla linha de muralhas circulares em torno da cidade foi um dos fatores considerados de grande importância para a manutenção do patrimônio praticamente ileso, apesar de terem passados mais de mil anos desde o início de sua construção. 

La Dame Carcas

      A origem do nome da cidade está ligada a uma antiga lenda segundo a qual Carlos Magno havia cercado a área, naquele momento dominada por sarracenos. O cerco já se estendia por muito tempo e as tropas padeciam com a fome. Ao desistir da conquista e determinar a retirada de seu exército, Magno teria ouvido soarem as trombetas da vitória, por ordem da líder muçulmana chamada Carcas. Com o abalo moral sofrido por seus homens que comentavam Carcas sonne (Carcas soa), Magno teria retomado o cerco e conquistado a cidade. A lenda provavelmente é falsa... Não existe registro de nenhuma liderança feminina no período de domínio muçulmano  e o nome Carcaso já era empregado pelos romanos para se referirem à região próxima ao rio Aude, mas não deixa de haver um certo charme na história e até mesmo estátuas na entrada da cidadela procuram dar certa credibilidade à Dama Carcas...

Expulsão dos Cátaros

      Carcassonne durante algum tempo foi considerada uma cidade rebelde pelos reis da França, particularmente no período da chamada "heresia cátara", quando desenvolve-se na  Europa e particularmente no sul da França uma variação da fé cristã que ameaçou a supremacia da Igreja Católica. Por seu apoio aos cátaros, Carcassonne foi uma das cidades atacadas pela chama Cruzada Albigense que dizimou os praticantes na nova religião e garantiu a manutenção do poder religioso vigente.

Porta Aude

             Alguns anos mais tarde, já no contexto da Guerra do Cem Anos a lealdade de Carcassonne será colocada à prova e desta vez a cidade assumirá a posição de um dos bastiões da soberania francesa sobre seu próprio território. Sob intenso ataque e cerco comandado por Eduardo de Woodstock da Inglaterra - O Príncipe Negro - a cidade se manteve leal à ameaçada coroa francesa, negando-se a cair nas mãos do inimigo e sendo posteriormente um do centros de comando para a  retomada do território invadido pelos inimigo inglês.

             As marcas das batalhas ocorridas neste período ainda podem ser vistas nas paredes da cidadela próximas à Porta de Aude, onde acredita-se que tenha sido o esforço principal do ataque inglês na tentativa de invadir a cidade.

 O Castelo Condal

          O castelo fica no interior da cidadela e era a residência dos viscondes de Carcassonne e centro do poder local. Foi construído no século XII, período do qual ainda restam vestígios particularmente na torre residencial (donjon). ao longo dos séculos o castelo foi sendo modificado e tendo sua proteção aumentada, incluindo a construção de um fosso. Atualmente abriga um museu e dá acesso às muralhas da cidade, sendo visitado diariamente por milhares de turistas. 

Basílica de São Nazário

     A bela Basílica que domina boa parte do interior da cidadela foi consagrada pelo Papa Urbano II em 1096, possuindo portanto quase mil anos de história. Foi construída em estilo românico pois, na época de sua construção ainda não haviam sido desenvolvidas técnicas mais elaboradas de construção. Assim, as partes originais da igreja possuem aspectos mais pesados, com aberturas pequenas e arcos de volta (arredondados). Com o passar dos séculos e o desenvolvimento da arquitetura, foram sendo realizadas modificações em estilo gótico, com construções mais graciosas e leves, incluindo aberturas maiores, arcos ogivais e lindas rosáceas que sustentavam os mais belos vitrais do sul da França.

Culinária Típica

       O prato típico da região de Carcassonne é Le Cassoulet de Castelnaudary, segundo a lenda local, criado para dar forças aos combatentes que defendiam a cidade próxima de Castelnaudary dos invasores ingleses. Como os alimentos se escasseavam por conta da guerra, pegava-se tudo o que se tinha e cozinhava-se junto com feijão branco, o haricot. O prato hoje comporta além do tradicional feijão branco, carnes de porco e pato. Pode não parecer muito bonito, mas quem provou ficou feliz...

      Para aqueles que se interessarem, segue abaixo a receita disponibilizada na entrada de um dos restaurantes tradicionais da cidade...

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O Sul da França

              Um dos maiores orgulhos nacionais franceses é a possibilidade que o território metropolitano possui de oferecer diversos tipos de climas e, consequentemente, uma gama imensa de diferentes modalidades turísticas, desde charmosas estações de esqui até praias paradisíacas, distanciadas de poucos quilômetros. Não é à toa que o país é o maior arrecadador europeu de recursos com o turismo internacional, perdendo no contexto mundial apenas  para os Estados Unidos. Apenas como parâmetro de comparação, podemos afirmar que, com um território cerca de 15 vezes menos que o Brasil, a França produz anualmente uma receita diretamente relacionada com as atividades turísticas dez vezes maior, ultrapassando os 60 bilhões de dólares.

           Uma das regiões que mais contribui para esta receita fabulosa é, sem dúvida, o sul da França, banhado pelas águas do Mediterrâneo, herdeiro de tradições milenares e possuidor de um peculiar estilo de vida ligado ao luxo, à beleza, à tranquilidade de pequenas cidades medievais mas também à uma vida noturna bastante agitada em alguns centros regionais, como Cannes, Marseille e Saint Tropez...

 

Occitanie

 Provence-Alpes-Côte d'Azur

                  De acordo com a restruturação territorial de 2016, o sul do da França Metropolitana corresponde às regiões de Provence-Alpes-Côte d'Azur e Occitanie, sendo que esta última resultou da unificação de áreas que muito se aproximavam de antigos feudos da Idade Média, como Languedoc e Roussillon. Um passado mais longínquo que o medieval, contudo, é evidenciado por diversas construções da antiguidade clássica, como a Arena de Nimes, antigo anfiteatro romano construído em 27 a. C., no período conturbado de Roma em que a República era substituída pelo Império, liderado por Augusto.

 

               A posição estratégica desta região, se constituindo uma importante porta de entrada para a Europa por intermédio de seus portos, fez com que a área fosse disputada por diversos povos, incluindo gauleses, romanos, visigodos, muçulmanos, ingleses e francos. O legado destas disputas que chegou até nossos dias é representado por diversas obras que dão seu particular testemunho do desenvolvimento humano, de diferentes culturas e em distintos períodos de desenvolvimento. 

                     Neste contexto, além das construções romanas já citadas, elevam-se também como pontos de grande importância, antigos castelos, cidades medievais fortificadas, fortalezas e canais artificiais construídos há centenas de anos... 

                  O canal de Midi, por exemplo, que corta a região da Ocitânia, foi inaugurado em 1681 e se destinava a possibilitar a navegação entre o Atlântico e o Mediterrâneo sem a necessidade de passagem pelo estreito de Gibraltar, região bastante conflituosa ao longo da História por significar um importante ponto de passagem. Considerado antigamente de importância estratégica tanto por aspectos econômicos quanto militares, hoje o Canal do Midi é um dos patrimônios da França reconhecidos pela UNESCO como sendo de interesse da Humanidade, destinando-se quase que exclusivamente ao turismo.

                  Outro monumento de espetacular beleza e também Patrimônio da Humanidade é a cidade de Carcassonne, uma das mais bem preservadas cidades fortificadas do medievo. Sua relevância histórica, particularmente revelada no contexto da Guerra dos Cem Anos quando resistiu a um cerco liderado por Eduardo de Woodstock - O Príncipe Negro - lhe rendeu, juntamente com a Abadia de Saint Michel, o reconhecimento como um dos bastiões da nacionalidade francesa e símbolo da resistência da Pátria ante aos invasores.

   

                     Nesta região se encontra também a cidade de Avignon, antiga sede do papado e testemunha de um dos períodos mais conturbados da história da fé católica - chamado de Cisma do Ocidente - quando a liderança da Igreja se viu dividida entre duas sedes, uma em Roma e outra na França, sendo esta divisão uma consequência direta da tentativa do rei francês Felipe IV de consolidar seu poder sobre as pretensões papais. A forte influência deste soberano - chamado de Rei de Ferro - resultou não só na transferência da sede católica para seus domínios como a expulsão dos judeus da França, o estabelecimento de impostos sobre os bens da Igreja e o extermínio da Ordem dos Templários. Amaldiçoado por Jacques de Molay,  último grão mestre da Ordem, Felipe faleceu em condições não esclarecidas menos de um ano após a morte de de Molay na fogueira. Seus filhos, um a um, se sucederam no trono... mas as sucessivas mortes resultaram na crise dinástica que ocasionou a Guerra dos Cem Anos. O rei que muito poder queria... perdeu a vida e seus descendentes a coroa!

                São realmente variados e de grande valor os diversos pontos de interesse turístico desta região... Ao longo das próximas postagens iremos destacar alguns deles como por exemplo:

- Mônaco, o principado sobre uma montanha...

- Nice, era para ser italiana, mas se tornou francesa...

- Marselha, uma porta para diversos mundos...

- Gorges du Verdon, um espetáculo natural...

- As pequenas surpresas da Riviera Francesa...

- De volta à Idade Média: Carcassonne!

- As mais belas vilas da França...

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